Fazer o certo não é fazer o fácil

Fazer o certo não é fazer o fácil. Bom seria se o fosse, é claro, mas normalmente as decisões corretas, responsáveis e éticas são aquelas difíceis de se tomar. Fazer uma tarefa necessária, de maneira completa e no tempo certo exige disciplina. Fazer o certo, é ainda mais difícil, pois enquanto as tarefas mecânicas do dia-a-dia possuem geralmente uma natureza neutra, como, por exemplo, conferir transações, examinar a contabilidade ou verificar estoques, as decisões morais são menos evidentes, carregadas de vieses particulares e exigem a compreensão do administrador sobre si mesmo, sobre a empresa e sobre o mercado e a sociedade onde ela se insere.

É claro que existem tarefas que são puramente mecânicas, como conferir estoques, verificar as informações bancárias, e tantas outras, que não possuem conteúdo ético e que devem ser objeto de rotinas simples e controles eficazes. Já outras são muito mais complexas e com repercussão na vida em sociedade, sendo necessário que a decisão não seja tomada de maneira automatizada, mas de maneira ponderada e responsável, pois normalmente afetam um patrimônio difícil de ser recuperado: a reputação.

É preciso se conscientizar que há muito no gerenciar diário de uma empresa que está no meio do caminho entre as tarefas mecânicas e aquelas que exigem a plena percepção das suas implicações pelo administrador. Essas resoluções que transitam entre os dois extremos talvez sejam as mais perigosas, pois aquilo que no primeiro momento pode parecer simples e corriqueiro pode-se transformar em uma dor de cabeça no futuro. E não há roteiro para percebê-las que não passe pela constante conscientização sobre o mundo, sobre a sociedade onde a empresa ou organização se insere e quais são as expectativas que o momento atual impõe.

Nesse sentir, cuidando da reputação da empresa diante de um mundo em constante transformação, o profissional de compliance será sempre um importante auxiliar no processo de tomada de decisões, buscando superar eventuais impasse éticos, regulamentares e até mesmo legais para que se chegue ao fim desejado sem incorrer em deslizes que o comprometam. O profissional de compliance, portanto, não é um obstáculo, mas mais um dos diversos profissionais que devem ser ouvidos para se traçar um caminho seguro para se atingir da melhor forma o fim pretendido.

O administrador, portanto, deve estar sempre aberto para um olhar global do problema a ser resolvido, buscando visões que lhe sejam alternativas e complementares, permitindo compreender o que muitas vezes está oculto para um único indivíduo. O brainstorming de visões diferentes sempre permitirá a melhor decisão, que é aquela informada e ponderada, mas é necessário que aquele que está na posição de decidir sempre se mantenha atento para buscar esse apoio, mesmo, ou até mesmo especialmente, quando o caminho lhe pareça claro e seguro. É justamente nesses lugares onde se escondem as armadilhas morais mais perigosas.