Vieses Cognitivos

O pensamento conservador e a inovação! (da série sobre Vieses Cognitivos)

Tenho escrito aqui em meu blog sobre alguns dos diversos vieses cognitivos que acometem a qualquer um de nós, seja quem for e qual for o nível educacional que possua, e que impactam significativamente nossas decisões em todos os níveis de nossas vidas. Esses vieses cognitivos, atalhos mentais também conhecidos como heurística, nem sempre são negativos, entretanto. 

Certo é que no dia a dia tomamos inconscientemente milhares de decisões baseadas em nossa experiência e formação, bem como em nosso caráter e personalidade. A maior parte do tempo elas se baseiam nesses atalhos mentais e são suficientes para atingirmos nossos fins. Para um ser vivo que só muito recentemente saiu das árvores, essa heurística é necessária para a sobrevivência. Entretanto, sua natureza conservadora – isto é, que objetiva nos preservar física e emocionalmente – a faz também inibidora do novo.

Mas também o novo não é necessariamente melhor. Nem o antigo, nem o novo são bons por si. Pense a respeito: tudo que hoje é antigo já foi novidade um dia, e possivelmente foi visto pelos mais velhos como “inútil”, “errado” ou “indecente”, e pelos mais novos como “moda”, “futuro” e “progresso”. A cada geração esse conflito se renova. Cada geração acredita que as músicas e filmes de sua juventude são os melhores de todos os tempos.

Elas são certamente as melhores, mas naquilo que representam a história de cada um. Assim como meu pai gostava de Orlando Silva e Nélson Gonçalves, eu aprendi a gostar de Queen e Led Zeppelin e talvez minha neta venha a achar a Beyoncé, musa da geração de seus pais, uma velha senhora cantando coisas velhas. A vida é assim, nós somos assim. Mas na verdade, tudo tem sua beleza se nos permitirmos conhecer.

O difícil exercício então é superarmos nosso preconceito em relação ao novo e ao velho, ao que estamos acostumados e às propostas de mudanças. Permitir-se experimentar não significa mudar, mas aceitar a possibilidade do novo é não envelhecer. Compreender a tradição e o que representa, bem como entender que a cultura se constrói sobre fundações do passado é necessário para que as novas gerações também percam um pouco da arrogância da juventude.

Essencialmente, na medida do possível, devemos estar sempre nos questionando sobre os reais motivos de nossas decisões. Eu realmente preciso fazer isso ou apenas estou agindo mecanicamente como tenho feito há anos? Meus sentimentos em relação a determinada pessoa decorrem de uma análise da sua conduta ou postura ou estou me deixando levar pela semelhança com outra que conheci no passado?

Assim como diante de um psicanalista, podemos dialogar conosco mesmo e tentarmos resgatar muito daquilo que está soterrado no inconsciente. Só assim poderemos superar racionalmente alguns dos vieses cognitivos, que apenas reflitam apego ao passado ou um amor à novidade que não sejam positivos. Certamente, essa será uma luta inglória e fadada ao fracasso na maior parte do tempo; mas quem sabe, com o seu exercício diário, possamos extrair o melhor de nós, seja para nossa vida pessoal, seja para a empresa que trabalhemos ou para um novo empreendimento, aproveitando o bom do passado para construir um sólido futuro.