Blame Avoidance Behavior (BAB) e suas consequências (da série sobre Viéses Cognitivos)

Um dos aspectos mais interessantes e menos estudados nas ciências comportamentais é o do comportamento de evasão ou evitamento de culpa, “Blame Avoidance Behavior” ou BAB. Trata-se de um comportamento muito comum entre aqueles que tem poder de decisão, mas que devem prestar contas desta para terceiros.

Esse viés cognitivo tem impacto significativo na esfera das decisões políticas, onde é mais estudado, mas pode ser extrapolado para todo e qualquer responsável por decisões dentro das mais diversas organizações. Assim, CEO’s e outros diretores devem satisfação aos acionistas e ao conselho de administração, a alta gerência deve satisfação à diretoria, a média gerência à alta gerência e assim por diante, revelando que em uma organização a necessária responsabilidade e prestação de contas pode ser para alguns um motivo para tomarem decisões erradas por receio de virem a ser culpados por erros futuros.

Existe, por óbvio, um excelente motivo psicológico para esse comportamento defensivo. É sabido que o ser humano se ressente mais das perdas do que daquilo que deixou de ganhar. Assim, é mais fácil explicar ganhos inferiores ao esperado que arranjar argumentos para um prejuízo, mesmo que em termos monetários sejam equivalentes. Todos gostam de ganhar créditos por um sucesso, mas na hora do fracasso é difícil encontrar responsáveis.


Além disso, o BAB também leva a comportamentos negativos em situações em que a perda aconteceu, seja com a negação da própria realidade do prejuízo, ou com a sua causalidade com a decisão original ou ainda com a diminuição de sua importância, o que pode levar a situações da avestruz que coloca a cabeça no buraco na esperança de fugir do perigo. A demora no trato dessa questão em situações de forte risco reputacional, regulatório ou legal pode significar a diferença entre a vida e a morte. Alguns encontram exemplos dessa situação na gestão da crise do reator nuclear de Fukushima, no Japão, após o severo terremoto de 2011 e tsunami que se seguiu. Não só pela própria cultura daquele país, onde a responsabilização negativa carrega um forte estigma social, mas também pela falta de clara cadeia de responsabilidade pelas urgentes decisões que deveriam ser tomadas, o acidente acabou gerando mais prejuízos do que aqueles estritamente inevitáveis. Quem assistiu a série Chernobyl da HBO também viu como o BAB pode impactar negativamente a necessária minimização de danos em caso de um desastre ou crise.

Assim, para minimizar a ocorrência desse comportamento evasivo, algumas sugestões podem ser úteis. Primeiro, quando se fala na avaliação de riscos da empresa (Risk Assessment) torna-se necessário também deixar claro o processo de determinação do apetite de risco que a empresa ou organização procura. Nem sempre é possível evitar riscos e muitas vezes riscos estão associados com oportunidades, mas deve sempre ficar claro que na categoria dos riscos operacionais – aqueles que são a preocupação do compliance – a melhor política é sempre a de prevenção destes usando os mapas de calor, onde se considerará a probabilidade de um determinado evento versus o grau de impacto reputacional/regulatório/legal de sua ocorrência. Assim, caberá a alocação da maior parte dos recursos para aqueles eventos que se situem nas zonas em que ambos os vetores sejam de média-alta ou alta intensidade, possibilitando que o programa de compliance seja ao mesmo tempo eficaz e econômico. Enquanto é aceitável um maior apetite de riscos quando estes se referem aos de mercado, ou seja, aqueles típicos da atividade negocial, ou mesmo naqueles de natureza financeira, no campo dos riscos operacionais, qualquer excesso na assunção de riscos poderá ser considerado como o pecado mortal da gula.

Mas em qualquer uma das situações, é preciso deixar claro a todos o processo decisório de delimitação dos riscos assumidos, bem como a aceitação tranquila, independente de culpa, dos resultados negativos se os procedimentos foram executados adequadamente.


Isso é importante para gerar respostas imediatas para a minimização dos danos em qualquer situação. Se houver cadeia de responsabilidades claras, avaliação de riscos adequadas, compartilhamento do processo decisório para a determinação do apetite pelo risco, e um ambiente que valorize condutas propositivas em vez da culpa, a empresa ou organização estará preparada inclusive para o inesperado. E isso é importantíssimo para sobreviver em um mundo cada vez mais assolado não só tsunamis reais, mas também por tsunamis financeiros e de saúde pública.

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